domingo, 26 de outubro de 2014

HOUSE OF CARDS – Parte I – Análise

“Ele escolheu o dinheiro em vez de poder. Um erro que quase todos cometem nessa cidade (Washington). Dinheiro é a mansão do bairro errado, que começa a desmoronar em 10 anos. Poder é o velho edifício de pedra, que se mantém por séculos. Não respeito quem não sabe distinguir os dois”
Francis Underwood


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Criação:Deau Williomon
Elenco Principal: Kevin Spacey, Robin Wright, Michael Kelly, Michael Gill, Kate Mara, Nathan Darrow, Sakina Jaffrey, Kristen Connolly, Mahershala Ali, Rachel Brosnahn, Sebastian Arcelus, Elizabeth Norment, Gerald McRaney, Constance Zimmer, Corey Stoll, Molly Parker, Reg E. Cathey, Larry Pine, Sandrine holt, Jayne Atkinson
Roteiro: Diversos
Temporadas (anos): 1 (2013), 2 (2014)
Duração (cada episódio): 50 min.
Gênero: Drama / Thriller

Francis Underwood é um membro do Congresso dos Estados Unidos. Líder do partido Democrata, Frank é casado com a bela Claire, diretora de uma Organização Não Governamental que luta pela preservação e distribuição igualitária da água potável. Frank e Claire vivem sozinhos em uma mansão em Washington. O casal não possui amigos. Não teve filhos. Não têm uma vida social além do necessário. Mas Frank e Claire possuem inteligência, astúcia e, o mais importante, sede pelo poder. Quando Frank apoiou Garrett Walker para presidente dos Estados Unidos, Walker prometeu que se consquistasse o cargo, lhe nomearia como Secretário de Estado. Garrett foi eleito, mas Francis não recebeu a nomeação que esperava. Assim, os planos de Frank foram por água-abaixo e ele teve de repensar em sua vida. Simples: aniquilar todos os que entrassem em seu caminho na busca do poder. Assessorado por Douglas Stamper, Frank começa a articular para conquistar um cargo ao lado do presidente. Para tornar isso mais fácil, o congressista faz uma aliança com Zoe Barnes, uma jornalista. Frank consegue colocar sua amiga de longa data, Catherine Durant, como Secretária de Estado e começa a promover um alcoólatra, Peter Russo, para governador. Mas será que Frank ajudou Cathy e está ajudando Peter por ser um homem de visão e por esperar que essas pessoas possam ajudá-lo no futuro? As atitudes de Francis Underwood vão além de meros favores. Francis é corrosivo, interesseiro e individualista, esperando, sempre, o momento certo para puxar a carta que sustenta o castelo de cada ser humano do qual se aproxima, e é claro que os destroços não demoronarão sobre ele.
“House of Cards” é uma produção americana que trata dos jogos de poder dentro da política nos Estados Unidos. Entretanto, a série é baseada em uma minissérie britânica que relatava a busca de um tal Francis Urquhart, interpretado por Ian Richardson, que manipulava a tudo e todos para poder chegar ao cargo máximo da política inglesa: primeiro-ministro. Não obstante, a minissérie é baseada no livro homônimo de Michael Dobbs que também trata da vida do governista do Parlamento Britânico. “House of Cards” é uma produção da Netflix, site que se torna cada vez mais popular justamente por trazer produções imensas para a internet. Elenco, produção, direção, roteiro, trilha sonora, fotografia e edição, tudo o que compõe “House of Cards”, todavia, é típico das grandes produções televisivas de canais como BBC e HBO. Melhor, a produção possui características nas interpretações e no enredo que lembram os grandes filmes políticos da Era de Ouro de Hollywood com as características técnicas vistas nas grandes produções de hoje.


A história, que gira em torno de Francis, é extremamente bem articulada e desenvolvida. A relação do congressista com a jornalista, por exemplo, inicia como uma relação de interesse mútuo: ela quer desvendar o sistema corrupto do Congresso, ele precisa de alguém que publique em primeira mão os problemas de seus desafetos dentro da política. Claro que a relação dos dois passará para uma segunda etapa quando começam a se envolver sexualmente. Apesar disso, Francis deixa muito claro que não possui interesses em desenvolver qualquer sentimento pela moça, apenas a está usando como objeto sexual e como forma de atingir interesses. E, devido a uma troca de palavras entre ele e Claire, compreendemos que Frank não é nenhum iniciante nessa prática de dormir com alguém para atingir seus objetos, ao passo que, Zoe ainda se sente mal por, pela primeira vez, estar dormindo com um homem para conseguir uma matéria decente. Frank é o retrato da experiência, enquanto Zoe é a representação da inocência.
Mas não é apenas Frank que tem seus momentos de infidelidade. Claire, aparentemente, também já teve seus romances. E Frank, como Claire sabe sobre Zoe, sabe sobre o envolvimento da esposa com um fotógrafo. Adam e Claire se conheceram e começaram a se relacionar graças à ONG que ela administra, tiveram alguns dias de romance e se separaram. Ao longo da série, Claire precisará da ajuda de Adam novamente e os dois voltarão a ter algumas noites de prazer. E se não podemos ter certeza se a protagonista já traiu o marido com mais alguém, podemos afirmar que ela não se sentiria nem um pouco enojada de ter de usar o sexo para atingir os objetivos que almeja, como Francis faz com Zoe. E se os dois tiverem de usar tudo isso juntos, o farão. Mas tudo isso, todas essas suposições, essas loucuras e essas atitudes são apresentadas por um roteiro muito sutil, simples, delicado. Os ambientes em “House of Cards” são clássicos e minimalistas. As roupas de Claire são muito escuras ou muito claras, pretas e brancas, azuis marinho e tons pasteis. A casa dos Underwood possui as mesmas características e os móveis são dispostos de forma muito perfeita. Vê-se, sem muito esforço, que quem habita aquela casa é meticuloso e muito organizado.


E por que não dizer que o roteiro da produção possui um teor implícito inigualável? Os assassinatos como forma de chegar ao poder, por exemplo, são raros, mas existem. O apelo sexual é dispensado, mas sabemos o quanto os personagens se sentem tentados a cometer o pecado da luxúria. Aliás, tonar o sexo implícito o deixa ainda mias sensual que mostrar cenas de sexo a todo momento. Além das palavras ditas por Francis para o espectador (o protagonista, em momentos oportunos e mantendo a tradição de Ian Richardson, olha para a câmera e conversa com o público de maneira intimista e até graciosa), ele se reserva ao direito de, em momentos em que a palavra é desnecessária ou impossível de ser dita, apenas usar os olhos para expressar sua ironia, seu deboche ou sua indignação pelo fato de algumas pessoas parecerem estar pedindo para serem presas em sua teia. Isso tudo, sem falar nas trocas de olhares do protagonista com sua esposa.
Claire e Francis não precisam de palavras, para o casal, bastam gestos e expressões que digam o que pensam e o que desejam. Claire e Frank se conhecem e se compreendem como poucos. Ela chega a exigir, após Frank prometer que tudo ficaria bem, que ele tome providências para que os dois possam, no mínimo, continuar levando a vida que levam (e se Francis puder elevar o patamar de vida, tanto melhor). E mais interessante: Frank obedece a ordem da esposa. Inesperadamente, ainda no início da série, Claire não dá a mínima para o caso do marido e de Zoe. Ele, por sua vez, releva o romance de Claire com Adam. Em dado momento, Claire, sabendo que tanto Francis quanto ela precisam relaxar, chega a planejar uma noite na companhia de outra pessoa. A Sra. Underwood provoca um acidente doméstico para que esse indivíduo se machuque, cuida dele, embebeda-o e espera Frank chegar para que, juntos, os três protagonizem uma das cenas mais surpreendentes da série. E se Francis precisa que Claire deixe toda sua vida de lado em prol de seus interesses profissionais, ela o faz, sempre recebendo uma recompensa aqui e outra ali, para que, em um futuro próximo, volte a fazer favores para o marido. Se Frank e Claire se amam é uma pergunta praticamente impossível de responder, e é por esse mistério, que esse casal (ou dupla, ou comparsas, ou seja lá como preferir rotulá-los) se torna tão contraditoriamente admirado e odiado pelo público. Esse casal, ganhando ou perdendo, sempre tem uma carta na manga para substituir qualquer peça que cair do castelo de carta deles.
Com roteiro e direção inteligentes, trilha sonora (de Jeff Beal) arrebatadora, fotografia estonteante, edição ágil, cenários e figurinos minimalistas, interpretações assombrosas e uma apresentação que conquista de cara, “House of Cards” é uma das mais importantes e melhores produções dos últimos anos. Importante, por que eleva as produções feitas para internet a um patamar nunca antes visto. E uma das melhores por um conjunto de fatores que a torna uma produção séria e de qualidade técnica inquestionável. Ainda assim, não podemos fugir do fato de que o que mais contribui para o sucesso dessa série é a história criada por Michael Dobbs. As intrigas, a manipulação, o desejo pelo poder e as dúvidas apresentadas pelo autor são o complemento para a criação de personagens incríveis. Frank é o retrato de um político existente desde os tempos mais remotos. Claire é o retrato de uma mulher que sabe se impor e se fazer necessária em um relacionamento, não importa de que natureza. Juntos, Francis e Clair Underwood são o retrato de um casal perfeito para a política mais medieval imaginável. Francis e Claire Underwood não se arrependem do que fazer. Até, por que, sempre planejam suas atitudes e sempre estão prontos para que elas se revertam em coisas positivas ou negativas. Nada surpreende esse casal por muito tempo, nada faz com que Francis ou Claire repensem em suas atitudes. No final de contas, como o próprio Francis Underwood afirma secretamente para os espectadores na segunda temporada: “A estrada pelo poder é cheia de hipocrisia e vítimas. Remorso, nunca.” E nada melhor que “House of Cards” para enfatizar essa afirmação.


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