domingo, 28 de fevereiro de 2016

COBERTURA XI PANORAMA INTERNACIONAL COISA DE CINEMA

A primeira sessão do domingo (01) do XI Panorama Internacional Coisa de Cinema explora a realidade vivida pelos negros no Brasil e pelos negros refugiados na Alemanha e, sutilmente, aponta um dos grandes culpados pelos problemas sociais mundiais: a político.


Ogum era irmão de Oxossi. Foi Ogum quem ensinou o irmão mais novo a importância de se pensar no próximo, foi quem o ensinou a arte da caça. Quando seus ensinamentos foram aprendidos, Ogum voltou à guerra. Oxóssi ficou. Oxóssi passou a tomar conta das matas e de seu povo. A negritude se mistura ao misticismo da cultura de origem africana que se originou no Brasil. A violência contra o negro e a intolerância religiosa, a segregação social e o preconceito de classes, o opressor e o oprimido. Tudo é exposto, discutido, excrachado em Rapsódia para o homem negro, curta-metragem de Gabriel Martins. Com narrativa não linear e que aposta na metáfora, no real (com planos longos, alguns monólogos que lembram depoimentos e outras características documentais) e no lúdico, o filme explora todas essas importantes questões de forma clara e inteligente. Um filme essencial para as discussões sociais atuais.
Os refugiados africanos na Europa ganham espaço em Fuja dos meus olhos, de Felipe Bragança, curta onde os problemas, dúvidas e anseios dos negros exilados de seus países são exploradas de forma semelhante ao longa anterior: através de metáforas e cenas que alternam entre o realismo puro (nesse caso, mais documental que o anterior) e o lúdico (aqui, muito mais fantástico que no outro). Permanecem, também, metáforas que tornam o filme universal. Não é um filme sobre refugiados africanos na Europa, e sim um filme sobre refugiados de qualquer país enfrentando tristes verdades em qualquer lugar do mundo. Aqui, entretanto, a história ficcional romântica entre um refugiado e uma alemã corta o ritmo do filme, tornando-o cansativo e aparentando que a narrativa perde o fio condutor.
Um homem que governa uma cidade no meio de escombros. Imagens cruas, algumas com poucas informações além de pedras e cabos de metal. Sonoridade lúdica e inúmeros momentos onde os diálogos são suprimidos por uma voz off que quase cansa o espectador. O prefeito, de Bruno Safadi, é um filme incomum, que critica e debocha sobre os políticos corruptos e megalomaníacos de forma intrigante. Realizado em em curto espaço de tempo, o filme opta por uma alegoria mais simples: quase todo ele se passa no local onde o protagonista trabalha como prefeito: no meio da rua, em meio aos escombros do que, antes, fora uma Rio de Janeiro visitada por turistas. Não há cartão postal (e mesmo os cartões postais da cidade maravilhosa são transformados em pedras em uma maquete que o prefeito tem em sua “sala”). Outra característica escolhida devido ao pouco tempo para a realização do longa foi a utilização de fotografias, como em stop motin, e as falas em off, que toma conta do longa. Apesar de segurar as pontas com essas novidades, o filme tem problemas que incomodam muito.
O estopim para que o prefeito decida que tornará o estado do Rio de Janeiro um país independente do Brasil se dá com a visita de uma mulher. Ela se define como Lilith, Cleopátra ou qualquer outra figura feminina histórica que tenha causado algum caos para o sexo oposto. Ela traz, consigo, um cristal, uma substancia alucinógena. E aí está o primeiro tropeço do longa: o Brasil enfrenta um grave problema em relação ao uso de crack em diversas regiões, e o que se faz no filme é usar um cristal metafórico para criar humor e debochar ainda mais dos políticos. Mais real, e cômico, seria, se Lilith aparecesse com um helicóptero cheio de cocaína. O outro sério ponto negativo do filme é o ritmo construído ao longo da narrativa. Com cenas interessantes e algumas ironias bastante uteis nas denúncias da politicagem no Brasil, o produto oscila entre o ritmo instigante e o entediante.
A sessão do domingo à tarde apresentou o melhor filme do XI Panorama Internacional Coisa de Cinema: Rapsódia para o homem negro, um filme sobre identidade cultural e racial, sobre o orgulho pertencer a lugares sociais e religiosos onde não se tem muita fala, mas também sobre a busca pela igualdade. Um filme que, mesmo em um curto espaço de tempo, abarca a situação negra no Brasil, um país que gosta de abrir a boca para falar sobre sua diversidade, mas que não a aceita de forma alguma. O curta-metragem possui uma força inspiradora e se faz essencial nas discussões da situação humana no Brasil. De resto, filme interessantes, mas que morrem na praia.

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