quarta-feira, 11 de novembro de 2015

COBERTURA XI PANORAMA INTERNACIONAL COISA DE CINEMA

A terceira noite da Mostra Competitiva Nacional do XI Panorama Internacional Coisa de Cinema teve como tema a juventude. Suas rotinas. Seus desejos. Seus medos. Seus passados. Seus amores e desafetos. Uma sessão para refletir as cabeças tão enigmáticas dos jovens do nosso país.



Imagens dizem mais que mil palavras. Fotografias impressas são documentos que podem durar a eternidade. De forma original e inovadora, A festa e os cães, de Leonardo Mouramateus revela o diretor e seus amigos através de fotografias tiradas no making off do curta História de uma pena (apresentado no Panorama na noite de segunda-feira), em festas e nas ruas. Em off, os amigos contam momentos de suas vidas tão diferentes, relembram passagens e dialogam sobre passado, presente e futuro. A grande sacada do filme é a habilidade de Mouramateus em contar histórias. A narrativa é clara, simples e muito bem construída. As histórias são narradas como em multiplots: cada uma tem suas particularidades, começam, terminam e não voltam mais. O ponto de encontro entre elas são as próprias fotografias. Mesmo que seja um pouco enfadonho em alguns momentos, A festa e os cães é, definitivamente, um filme único, do tipo que não poderá ser referenciado sem parecer uma cópia mal feita e sem graça.


Um dos momentos mais aguardados da adolescência, a perda da virgindade, é o tema do curta Virgindade, de Chico Lacerda. Enquanto imagens de uma cidade qualquer no Pernambuco passam na tela, a voz de Chico é ouvida em off narrando acontecimentos de sua vida, desde os primeiros desejos sexuais, até o momento em que descobre o sexo. Ainda nas imagens, vemos uma seleção de variados corpos masculinos, referência ao desejo, ao prazer, à beleza do corpo humano em sua essência. O problema, aqui é a forma como a história é contada, as palavras usadas e a certa “forçassão de barra” em se naturalizar tudo o que se diz. Nesse contexto, apesar de abordar um tema bastante pertinente, à medida que a sociedade brasileira ainda trata o sexo como tabu, o que faz os jovens ficarem bastante inseguros sobre o tema, Virgindade tem um ritmo um pouco lento e uma narrativa que poderia ser mais bem elaborada. 


Uma jovem está em uma balada. O som ensurdecedor da música incomoda o espectador. Segundos depois, a jovem está correndo. Parece fugir de alguém. Ela cai. Vira-se, encara a câmera e grita. Agora já não há mais música, apenas o grito da jovem. Grito que incomoda, ensurdece, agoniza, apavora. Mate-me por favor, de Anita Rocha da Silveira, sustenta essa atmosfera gerada na primeira sequência até seu último minuto. A história gira em torno de quatro amigas adolescentes que vivem no Rio de Janeiro em uma época de uma onda de assassinatos de jovens. O cotidiano delas (a escola, os amores, as festas, as risadas) estão sempre presentes, mas é o subjetivo que mais chama a atenção. Elas estão com medo dessas mortes, ou há alguma sensualidade que as conquista por trás do perigo? Com planos gerais que mostram a Barra, local onde elas moram, o filme utiliza a estranheza de uma parte da cidade do Rio de Janeiro para revelar uma imensidão que assusta. Ou que conquista.
E é graças a uma direção de núcleo competente e intepretações convincentes que logo nos damos conta de que mesmo os jovens da história estão confusos em relação ao que sentem sobre essas mortes. É claro que há um interesse demasiadamente grande. E não em saber quem é o assassino – dúvida que não toma o filme em nenhum momento – e sim em saber como as mortes aconteceram, quem eram as vítimas. Um interesse, talvez, em sentir na própria pele pelo que as vítimas passaram. Com planos bem compostos e alguns bastante longos, trilha sonora diversificada e sonoridade que, junto da montagem, segura o ritmo e a tensão, o filme tem imagem e som como grandes trunfos para fazer o espectador não sair da sala de cinema durante seus mais de 100 minutos, mesmo que o conjunto do longa não agrade tanto assim. E no desfecho, mesmo que de forma simples, uma constatação inesperada e arrebatadora. Ou, apenas, mais um monte de dúvidas.



A juventude apresentada pelos filmes da noite parece compor muito bem os jovens brasileiros. Curiosos pelo sexo, sedentos de atenção, conquistados pela exclusividade, expostos às dificuldades da vida, desanimados com as escolas, e ainda no desejo de curtirem a vida adoidados como o personagem de Matthew Broderick do filme da década de 1980. Apesar de temas um tanto clichês, os três filmes se mostram bastante inovadores na forma como essas narrativas são contadas, atribuindo a histórias comuns ou até corriqueiras para a sociedade brasileira (jovens num programa para quem não completou o ensino médio, um garoto descobrindo a sexualidade e garotas com os sentimentos à flor da pele em consequência de assassinatos muito inesperados) em eventos interessantes e bastante instigantes. 

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