sábado, 19 de setembro de 2015

COBERTURA 48º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO

A tarde do quarto dia do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, sexta-feira (18), começou com uma master classe de Marcos Bernstein, roteirista de Central do Brasil, e se seguiu com as Mostras Brasília e Panorama. Nesta, foi apresentado o longa Através, de André Michilis, Diogo Martins e Fábio Bardella.



Mulher. Negra. Cubana. Cintia vive em Havana e pensa em sair do país, visto que Raul Castro revogou a lei da “carta branca” que obrigava os cubanos a pedirem autorização para viajarem ao exterior. Antes de decidir se sai de Cuba ou não, a jovem viaja pelo país para visitar os avós. No meio do caminho, Cintia encontra diferentes, pessoas, culturas, sonhos, desafios, medos e, mais uma vez, incertezas.
Filmado com uma equipe de guerrilha – os três diretores/roteiristas/fotógrafos/montadores, a atriz e um produtor/ator andavam em um carro por Cuba realizando o filme – o longa quebra com os padrões que o cinema acostumou o espectador. Logo de início isso já pode ser visto: dois planos longos com personagens entrando e saindo deles e sem se preocupar em enquadrar os rostos dos mesmos. Depois a cidade é apresentada e uma banda sonora é colocada no extremo lado direito de um plano cheio de linhas que convergem diretamente para a banda. Por vezes, o filme lembra um documentário, à medida que acompanha Cintia de forma leve e um pouco distante da personagem. Cenas mais próximas, onde Cintia nunca se dirige ao espectador diretamente, entretanto, lembram que o filme é uma ficção. Outra característica interessante proposta pelo longa é a apresentação dos diferentes locais por onde Cintia passa com planos fixos de prédios das cidades e panorâmicas, valorizando e caracterizando os locais por sua arquitetura.


Através é uma ficção, sem dúvidas, mas que faz referências a inúmeras vidas reais. E não podia ter sido lançado em momento mais oportuno, levando em consideração a situação dos imigrantes na Europa, e por que não dizer, dos imigrantes que chegam ao Brasil vindos de outros países da América Latina. Como eles, Cintia está viajando para encontrar uma melhor condição. A insegurança da jovem em sair de Cuba é a maior semelhança dela com outros imigrantes. Além disso, é essencial compreender a importância da viagem para o ser humano se redescobrir. Como Ingmar Bergman fez em inúmeros de seus filmes, como Juventude, Morangos Silvestres, O Silêncio e Persona, Walter Salles fez com Central do Brasil, e Sean Penn em Na Natureza Selvagem, o trio de diretores faz em Através. Cintia passa a questionar suas atitudes, suas decisões, opta por conhecer e se envolver com pessoas diferentes, enfrenta situações nunca imaginadas e tenta descobrir o que realmente deseja.


Cinthia Rodríguez, intérprete de Cintia, é a grande responsável por mostrar, de forma sutil e muito agradável tudo o que se passa na mente da protagonista. Sem grandes momentos de reflexões ou desabafos, são as expressões corporais e faciais da atriz que denotam o que a jovem vive. Além de expressões, Cinthia tem uma presença corporal e espiritual fantástica. As relações construídas pela atriz com o restante do elenco (em sua maioria, moradores de Cuba, ditos não atores) parecem acontecer com muita naturalidade. A cada indivíduo que ela encontra (seja em um trem ou ônibus, alguém que se proponha a ajudar a jovem, ou parentes e amigos próximos que ela conhece de longa data) se torna visível, desde o primeiro minuto, que há a construção de uma relação. A Cintia apresentada é uma jovem cativante, sincera, espontânea, mas também, como qualquer outra jovem, é confusa, insegura e insiste em procurar respostas.   



Como em qualquer filme daqueles citados acima sobre a importância da viagem para a redescoberta humana, não interessa o desfecho do longa. Como não interessa saber se Isak Borg voltará vivo para sua casa, não interessa saber se Cintia ficará em Cuba ou sairá de lá. O que mais interessa em Através, é o percurso, as situações pelas quais a personagem passa, as pessoas que conhece, o que ela vive nesse caminho sempre muito difícil. Mais importante ainda, é reconhecer que André, Diogo e Fábio contam essa história muito comum e vivenciada por milhares de pessoas no mundo todo de forma original, inteligente e agradável para se ver e ouvir, especialmente na telona.

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