quinta-feira, 21 de maio de 2015

A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E ESCOLHA NA MOSTRA DE CURTAS DO II SEMPÓSIO DE GÊNERO E SEXUALIDADE

Saiba mais: https://www.facebook.com/levsufms
https://sigesex.wordpress.com/
 Durante os dias 20, 21 e 22, realiza-se, no Anfiteatro do Complexo Multiuso Dercir Pedro Oliveira do Campus de Campo Grande da Universidade do Mato Grosso do Sul, o II Simpósio de Gênero e Sexualidade (Sigesex) – Corpos Vigiados e a Laicidade do Estado. O Sigesex é realizado pelo Laboratório de Estudos de Violência e Sexualidade da UFMS e neste ano conta com as seguintes atividades: conferência de abertura, mesas redondas, grupos de trabalhos, mostra de curtas, atividades culturias e festa de encerramento. O blog, portanto, faz uma análise dos filmes apresentados na mostra de curtas na tarde dessa quinta-feira , relacionando-os com as outras atividades do Simpósio acompanhadas por mim.
O primeiro filme foi Nem te conto, realizado de forma coletiva na cidade de Campinas (SP) e que se apresenta como um vídeo-documentário sobre a criação, produção e divulgação de um material educativo (Zine Nem te Conto) destinado a adolescentes gays e travestis que aborda o uso da camisinha – a proteção sexual contra DST’s – de forma criativa e muito próxima desse público alvo. O filme é mais um informativo, algo que se aproxima de vídeos educacionais apresentados na escola. A diferença – o que faz o filme se destacar – é a forma como esse informativo é abordado: são mostrados os próprios gays e travestis deixando suas criatividades fluirem para a criação desse material educativo feito, dessa vez, por pessoas que compreendem muito bem a cabeça desse público alvo, e não por homens, cis, héteros, brancos que ocupam o congresso de forma absurda, por exemplo.


Nesse contexto, com uma câmera na mão curiosa e ágil, mas, ao mesmo tempo, atenta aos detalhes das criações dos jovens, somos levados ao espaço onde estão esses jovens a fim de compreender a necessidade desse tipo de informação. De forma descontraída, gays e travestis relatam o que já viveram e admitem como o uso da camisinha é necessário. Segundo o professor Tiago Duque, que acompanhou a produção do curta em 2008 e que hoje dá aulas na UFMS, a ideia era descontruir o fascimo acerca do uso da camisinha provocado por entidades governamentais. Para ele, não se deve estrapolar e qualificar o não uso do preservativo como um crime, e sim, mostrar, de forma descontraída, que isso é necessário para que a saúde do jovem seja garatida. O filme é uma ótima pedida para substituir aqueles panfletos repetitivos e sem graça destribuídos pelos orgãos governamentais responsáveis pela saúde da população brasileira.
A apresentação de filmes seguiu com um curta que mais se aproxima de uma coletânea de informações para denunciar o preconceito no Brasil, comparando-o ao preconceito extremista que a Rússia mantem até hoje. Para isso, Ramiro Rodrigues, retoma, em Clareira, a história de duas competidoras russas de atletismo que se beijaram na boca após ganherem um campeonato. O governo logo reagiu dizendo que aquilo era apenas uma forma de comemoração. As atletas tiveram de se manifestar e esclarecer que o governo estava certo, e que as duas não eram companheiras. Paralelamente a esse relato, o filme mostra cenas desgastantes recorrentes nos últimos anos em que políticos como Silas Malafaia e Jair Bolsonaro eram protagonistas e deixavam claro que sua homofobia não tem limites. Clareira é um filme simples, mas uma coletânea importante para alertar ao Brasil que se os ideias não forem repensados, em um futuro próximo seremos tão extremistas e hipócritas quanto a Rússia. No final do curta, um manifesto contra o calar social, onde um ser humano costura a própria boca alertando como a comunidade LGBT vem sendo agredida verbalmente e como ela é forçada a se calar. Quem deveria ficar calado afinal?


O último filme da sessão foi Ana, curta de Breno Benetti Correa, sobre uma jovem que se liberta de suas prisões muito pessoais. Lembrando o cineasta Ingmar Bergman, Ana está vestindo uma máscara – sua persona – durante toda a vida. Como nos filmes do sueco, entretnato, a alma da jovem vem à tona e ela começa a descobrir os prazeres e as verdades sobre seu próprio corpo. Assim, Ana se liberta e se deixa levar pela natureza e pela dança. O filme é construído de forma muito delicada: essas três fases (perturbação, descoberta e libertação) possuem fotografias e sons muito distintos. O filme inicia preto e branco, com uma música simples e que se destaca pouco em comparação aos planos detalhe do corpo desesperado de Ana; com as descobertas, vê-se o inferno particular da protagonista em um espaço interno pouco iluminado e o fogo, em primeiro plano, traz cor e vida ao filme, a música é impactante e muito presente; por fim, durante a libertação, a fotografia é muito bem iluminda, externa e com músicas batucadas que lembram um pouco o Candomblé – que também parece ser referenciado com a presença da água, da terra, do fogo e do ar, os elementos naturais.
Apesar de uma narração em off da protagonista desnecessária – o filme se resolvia apenas com imagens e efeitos sonoros – a narrativa clássica é trabalhada por Breno de forma surrealista e muito lúdica. A câmera, apesar de não se mover e não trazer nenhum tipo de artificio como o zoom in/out ou travelling, apresenta enquadramentos muito estéticos, bem pensados. Críticas aos preconceitos e ao conservadorismo, negação dos padrões, defesa da expressão e da liberdade em qualquer instância, a busca por respostas a recorrentes perguntas do ser humano estão nesse filme, escrachadas ou apresentadas de forma sutil, singela, com cuidado. Ao contrário dos filmes clássicos, onde as expressões faciais diziam tudo sobre o que o personagem sentia, aqui segue-se a proposta de alguns fimes independentes das décadas de 1960 a 1980, onde o corpo ganha grande importância frente à câmera, com seus movimentos e formas.


Defendendo e enaltecendo as lutas e a importância dos direitos humanos e da diversidade – de genero, de cor, de raça, de sexo e qualquer outra – os filmes apresentados pelo II Simpósio de Gênero e Sexualidade são ricos em recursos estilíticos audiovisuais ao passo que atendem às espectativas na tentativa de atingir um certo público alvo com um determinado produto. Um utiliza o recurso de um certo amadorismo, mas de quem sabe como ser um “amador profissional”; outro seleciona produtos já vinculados para comparar dois países; e o último usa da ficção e de uma estética muito bem elaborada para explorar os temas anteriormente citados  Socialmente, os filmes se destacam pela importância dada ao ser humano e, sobretudo, pela importância dada às escolhas de todxs. É a sétima arte servindo, mais uma vez, de meio de expressão de seres humanos muitas vezes calados pela sociedade, mas que insistem em gritar e serem ouvidos.

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