segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

026. (ESPECIAL OSCAR 2014) ELA, de Spike Jonze

Um dos filmes mais belos e sentimentais do ano.
Nota: 9,5


Título Original: Her
Direção e Roteiro: Spike Jonze
Elenco: Joaquin Phoenix, Amy Adams, Rooney Mara, Scarlett Johansson, Chris Pratt, May Lindstrom, Kristen Wiig, Matt Letscher, Olivia Wilde, Pramod Kumar, Evelyn Edwards, Steve Zissis, Dane White, Nicole Grother, Luka Jones
Produção: Megan Ellison, Spike Jonze, Vincent Landay
Ano: 2013
Duração: 126 min.
Gênero: Drama

Confira a canção "The Moon Song", indicada ao Oscar de Melhor Canção Original, de Karen O e Spike Jonze e interpretada por Karen O

Theodore Twombly é um escritor de cartas que trabalha em uma empresa especializada em cartas escritas à mão. Theo é criativo, inteligente, romântico, simpático e educado. Entretanto, isso tudo não é o suficiente para que seu relacionamento com Catherine permaneça em pé após alguns anos de casamento. Quando ele e Catherine decidem se divorciar, Theodore fica perdido, sem saber para onde ir, sem saber o que deseja ou o que fazer com sua nova vida. E é no auge de sua depressão que Theodore “conhece” Samantha, uma operadora de sistema.


Theodore e Samantha, nesse contexto, iniciam uma relacionamento puro e sincero. Aos poucos eles se conhecem e se apaixonam um pelo outro. O que acontece entre eles é algo mútuo, real, apesar de Samantha não ser real. Uma operadora de sistema, significa que ela está “dentro” de uma máquina, que ela é um istema que organiza os arquivos de quem a compra. Theo e Samantha conversam, discutem, riem e fazem sexo. Aliás, um dos pontos altos do filme são as relações sexuais entre os dois. Em um primeiro momento, Theodore apenas ouve as carícias de Samantha, os gemidos e sussurros enquanto ele se masturba. E o mais impressionante é que isso satisfaz totalmente o personagem. Ele não precisa ter uma mulher o tocando para sentir prazer, basta saber que aquela foz sexy e gentil também se satisfaz apenas com sua voz. No entanto, Samantha não acredita que possa ser tão maravilhoso para Theodore como é para ela e contata uma jovem que está disposta a fazer sexo com Theo, como se ela fosse Samantha. E é aí que temos uma das cenas mais belas do longa, onde Theo expressa tudo o que ele é capaz de sentir por esse sistema operacional que tomou conta de sua vida. Outra cena impressionante é quanto Theodore não consegue mais ligar Samantha. Seu desespero é tão grande e sincero que nos desperta os sentimentos mais profundos que possuímos. Ainda é necessário apontar, como Samantha representa a maior parte dos relacionamentos dos seres humanos. Quando iniciamos um relacionamento, todos nos doamos ao máximo, o sexo é intenso, existe diálogo em qualquer circusntância e deixamos os defeitos do outro passar em branco, todavia, todo esse castelo de conto de fadas começa a desabar com o passar do tempo, por um motivo simples: nos distanciamos. De uma forma ou outra, Samantha representa o que sempre acontece com os casais quando um deles vê a paixão desaparecer: deixa-se de se estar ao lado do parceiro de uma forma ou outra. Nesse caso, Theodore está experimentando o que plantou em seu relacionamento anterior, quando ele se distanciou de Catherine por seus motivos estúpidos.


Spike Jonze possui muitos trabalhos ruins em seu currículo, a exemplo os roteiros para série estúpida chamada “Jackass” (2000 – 2002). Entretanto, é suficiente dizer que ele é o diretor de dois dos melhores filmes lançados entre 1995 e 2004: “Quero ser John Malkovich” (1999), com John Cusack e Cameron Diaz e indicado a 3 Oscar, incluindo melhor direção, e “Adaptação” (2002), com Nicholas Cage, Meryl e Chris Cooper e vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante (Cooper) e indicado em outras três categorias, incluindo melhor roteiro. Apesar da qualidade de ambos os longas, vale lembrar que Jonze apenas os dirigiu, deixando o roteiro para outros. Aqui, entretanto, é a vez de Spike Jonze mostrar toda sua criatividade e competência fazendo a vez de diretor, roteirista e produtor do longa. A ideia proposta pela trama pode parecer muito maluca e pode parecer impossível sustentar tal história em duas horas de filme. Sem dúvida, o enredo em que um homem se apaixona por um máquina é algo maluco, mas isso não significa que exista alguma chance de o filme dar errado, por um motivo simples: é Spike Jonze quem está no comando. Dessa forma, tudo funciona muito bem. O roteiro é espetacular e nos faz refletir sobre tantas coisas na vida que é impossível escolher apenas algumas para citá-las (além de que, fazê-lo, tiraria metade do prazer do longa). Tudo deve ser muito espontâneo ao se assistir “Ela”. A trilha sonora de William Butler e Owen Pallett se encaixa perfeitamente com os sentimentos expressos pelos personagens. O figurino é um dos componentes mais interessantes e a fotografia é surpreendente.


É um fato que Joaquin Phoenix é um dos artistas mais controversos de Hollywood, mas também é uma verdade que quando o ator resolve encarar um bom personagem com toda sua garra e força, sua interpretação valerá a pena. “Ela” é um dos longas que nos fazem relembrar a qualidade dos trabalhos do ator. É ele quem consegue trazer toda a personalidade marcante de Theodore: um homem simples, educado, gentil, amoroso, engraçado, mas que vive uma fase difícil da vida, tornando-se um homem depressivo, chato, fraco e sem esperança alguma em seu futuro. E a beleza da interpretação de Phoenix está em conseguir alternar o Theo triste por estar sozinho com o Theo feliz por ter encontrado o amor em Samantha. O melhor momento de Phoenix, além das relações sexuais e do desespero pela desativação do sistema, é o momento em que Theodore se dá conta de como a vida com Samantha é impossível. Além disso, é impossível não se identificar um pouco com o personagem. A não indicação aos prêmios de melhor ator para Phoenix é lamentável e ridícula. De um lado de Joaquin Phoenix está a ótima Amy Adams, vivendo a amiga de Theodore, Amy, apesar de Adams aparecer pouco, a atriz mostra como mereceu suas quatro indicações a melhor atriz coadjuvante ao Oscar nos últimos anos, e uma a melhor atriz esse ano: ela também consegue alternar sentimentos de felicidade, amor, ódio, saudade e desespero. Do outro lado de Phoenix, está Scarlett Johansson, vivendo Samantha. Apesar de a atriz não aparecer em nenhuma cena, é sua voz a responsável por conquistar Theodore e a todos que assistem a esse filme. Não há nada na voz de Johonsson que lembre um robô ou algo parecido, e isso já nos remete a proposta do sistema operacional de parecer realista. Apenas pela voz, e isso é raro, Johansson proporciona uma das melhores interpretações de sua carreira trazendo todos os sentimentos que esse longa extremamente sensível traz.


Poucas coisas esse ano podem ser mais surpreendentes que as indicações do filme ao Oscar. Ao todo são cinco categorias em que o longa se encontra. E toda essa surpresa se deve a fatores óbvios: o filme é uma viagem sem precedentes sobre um homem que se apaixonada por uma máquina e é correspondido e tudo é abordado de forma simples, sincera, real e muito inteligente. As cenas sexuais do protagonista e de sua amada não são exatamente o que a ala conservado da Academia gostaria de preservar (aliás, a forma natural com a qual a relação dos personagens é tratada está longe de ser a idealização de romance dos membros da Academia). Tudo no filme é muito surreal, nada ali parece ser baseado em alguma realidade, é como se Theodore vivesse em um mundo paralelo ao nosso, e, por fim, o longa não possui grandes cenas românticas ou deprimentes, pelo contrário, tirando a tecnologia avançada demais, o longa mostra a vida como ela é. A produção é, merecidamente, indicada na categoria de melhor filme, porém, considerando a não indicação de Jonze como melhor diretor (eu até deixaria Steve McQueen de lado para dar uma chance maior a “Ela”) o filme não possui nenhuma chance de vencer o prêmio, que será disputado por “Gravidade” e “12 Anos de Escravidão”, ambos indicado na categoria de direção. Spike Jonze é indicado na categoria de melhor roteiro original, e concorre, apenas, com Woody Allen, que pode levar o prêmio por “Blue Jasmine” e com Eric Warren Singer e David O. Russel, por “Trapaça”, filme que vem ganhando força nas últimas semanas. K. K. Barrett e Gene Serdena são indicados na categoria de melhor direção de arte, com um trabalho surpreendente que dá um tom ainda mais realista ao melancolismo do longa, as chances são grandes se levarmos em conta que o filme já faturou o prêmio do Sindicato dos Diretores de Arte. No campo musical, o longa vem forte com indicações em melhor trilha sonora e melhor canção original, para “The Moon Song”, de Karen O e Spike Jonze. A trilha, apesar de ser uma das mais expressivas do ano, deve perder para Steven Price e seu trabalho magnífico em “Gravidade”, filme onde a trilha é essencial. A canção está entre “Let it Go”, da animação “Frozen”, e “Ordinary Love”, de “Mandela: Long Walk to Freedom”. Minha aposta fica apenas no roteiro.



Theodore nos transmite, sobretudo, a importância de priorizarmos quem as pessoas são e não o que elas são. De valorizarmos o que existe no interior de cada alma, aceitando os defeitos e enaltecendo as qualidades de quem amamos. Não importa sua sexualidade, seu gênero, sua raça ou sua cor. Não importa se desejamos uma pessoa de mesma sexualidade, gênero, raça ou cor ou não. Devemos, sem dúvida, deixar o costume mesquinho e imbecil intrincado em nossa sociedade de desejarmos corpos bonitos, indivíduos bem sucedidos, pessoas que a sociedade espera que desejemos, dando espaço para que cada um possa mostrar o mais importante: seus sentimentos e sua capacidade de amar e ser amado. Entretanto, Samantha percebe que Theodore é pouco para ela, somente aquele homem não irá satisfazer todas as suas necessidades. E Theo, como o sistema, também sabe, mesmo sem aceitar, que Samantha não é suficiente para ele. O filme, assim, também expõe uma dura realidade: não há programa, não há criação humana, nada no mundo que substitua o calor humano, o abraço que um parceiro pode proporcionar. Nenhuma voz sensual pode ser tão sincera quanto as expressões de um ser humano quando este sente prazer sexual com seu parceiro. É claro que, por vezes, é muito melhor ter um parceiro virtual que nos compreenda e que possa ser ligado e desligado quando bem se entende. Todavia, o amor não pode ser ligado ou desligado. O amor não pode ser previsto, planejado, esperado ou controlado. O amor não pode ser, especialmente, mensurado. Até hoje, nenhum sistema foi criado com tanta precisão para que os humanos sejam indispensáveis uns para os outros para todo o sempre, pois ninguém foi capaz de reproduzir em um sistema a veracidade que somente a alma humana pode interpretar. No final das contas, é isso que Theodore e Samantha revelam.

VENCEDORES DO PRÊMIO DA ASSOCIAÇÃO DE CRÍTICOS DE FILME DE DALLAS
Melhor Filme: 12 anos de Escravidão
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Ator: Matthew McConaughey, por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor Ator Cadjuvante: Jared Leto , por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Filme Estrangeiro: Azul é a Cor Mais Quente
Melhor Roteiro: 12 Anos de Escravidão
Melhor Filme de Animação: Frozen: Uma Aventura Congelante
Melhor Fotografia: Gravidade
Melhor Trilha Sonora: Gravidade
VENCEDORES DO PRÊMIO DA ASSOCIAÇÃO DOS JORNALISTAS DE FILME DE INDIANA
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Filme de Animação: Frozen: Uma Aventura Congelante
Melhor Filme Estrangeiro: Azul é A Cor Mais Quente
Melhor Direção: Steve McQueen, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Ator: Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz: Adele Exarchopoulus, por Azul é a Cor Mais Quente
Melhor Ator Coadjuvante: Barkhad Abdi, por Capitão Phillps
Melhor Atriz Coadjuvante: Jennifer Lawrence, por Trapaça
Melhor Roteiro Original: Spike Jonze, por Ela
Melhor Roteiro Adaptado: Richard Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy, por Antes da Meia Noite
Melhor Documentário: The Act of Killing
Melhor Trilha Sonora: Hans Zimmer, por 12 Anos de Escravidão
Prêmio Visão Original: Ela

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