domingo, 19 de janeiro de 2014

036. (ESPECIAL OSCAR 2014) BLUE JASMINE, de Woody Allen

A dupla Allen-Blanchett apresenta um dos longas mais fortes e impressionantes do ano.
Nota: 9,3


Título Original: Blue Jasmine
Direção e Roteiro: Woody Allen
Elenco: Cate Blanchett, Sally Hawkins, Alec Baldwin, Charlie Tahan, Daniel Jenks, Max Rutherford, Andrew Dice Clay, Kathy Tong, Bobby Cannavale, Max Casella, Ali Fedotowsky, Michael Stuhlbarg, Alden Ehrenreich
Produção: Letty Aronson, Stephen Tenenbau e Edward Walson
Ano: 2013
Duração: 98 min.
Gênero: Drama

Jasmine é uma bela mulher que se casa com o milionário Hal após conhecê-lo em uma festa ao som da canção Blue Moon, como ela mesma gosta de lembrar. A vida do casal é, aparentemente, perfeita: vivem em um lindo apartamento em Nova York, possuem uma bela casa de campo, são abençoados com a companhia de Danny, filho de Hal, que adora a madrasta, compram o que querem e frequentam as festas da alta sociedade. Entretanto, o mundo do casal vai ladeira à baixo quando o FBI descobre que Hal era um mentiroso nato e fez fortuna enganando pessoas. Enquanto Hal vai preso e comete suicídio, Jasmine se obriga a se conformar em morar em São Francisco com a irmã pobre que ela sempre rejeitou.


“O ser humano tá na maior fissura porque/Tá cada vez mais down the high society”. Não consigo imaginar outro filme que tenha assistido que se encaixe mais perfeitamente naquela música cantada por Elis Regina quanto esse. Sem dúvida alguma, Jasmine vê seu castelo ruir, sua vida mansa e bela se despedaçar, suas sociais ao entardecer virarem apenas lembrança e suas tardes fazendo compras se transformarem em tardes onde ela é a vendedora e não compradora, isso tudo, por que, após tantos anos vivendo na ilusão, Jasmine, finalmente, está abaixo da sociedade. Em uma das cenas mais características que exemplificam a situação da personagem, Jasmine lamenta o quão triste é fazer serviços comuns em São Francisco como ser secretária de um dentista, alegando que não quer ser mais humilhada como já aconteceu em Nova York, onde, além de ter de vender suas joias e seus casacos de pele, foi obrigada a vender sapatos em uma loja onde, uma vez, comprou tais objetos. Ali, e durante todo o longa, a personagem nos mostra como é fútil e como um monstro foi criado com o passar dos anos. Essa ideia começa a ser armada pelo roteiro desde que a trama inicia: em um avião, Jasmine conta a uma senhora como foi conhecer Hal e fala sobre sua vida chata e mesquinha. A mulher ao lado de Jasmine não dá a mínima para o que a companheira de viagem de primeira classe (mesmo falida Jasmine insiste em viajar na primeira classe) está dizendo. Mais tarde, ainda teremos mais momentos como esses, em que a protagonista relembra o passado glorioso falando sozinha, mesmo que existam centenas de pessoas à sua volta com quem poderia conversar realmente. E em algumas delas somos capazes de perceber que Jasmine sempre foi um pouco perturbada, e tudo começa pelo fato de ela sempre deixar claro que Ginger e ela foram adotadas, filhas de pais diferentes, de mães diferentes, mas adotadas pelo mesmo casal. E o que a consola nesse passado triste é o fato de saber, e negar, que a mãe adotiva sempre preferiu ela a Ginger.


Nos últimos anos, acredito que Woody Allen esteja se tornando um diretor muito melhor do que jamais fora. Não que seus trabalhos do passado sejam ruins, mas acho que a última década deu a Allen mais sabedoria e classe em seus trabalhos. Não estamos mais expostos a ideias loucas como em “Tudo o que Você queria  saber sobre sexo mas tinha medo de perguntar” (1972) ou a filme lentos como “Manhattan” (1979). O diretor esta trazendo longa mais vivos, mas fortes em todos os sentidos e extremamente cativantes. Sua não aparição nos filmes ajuda nessa melhora, ele apenas trabalha a ideia e a idade lhe trouxe ideias, indiscutivelmente, sensacionais. “Blue Jasmine” é um filme vivo, mesmo com toda a melancolia que ronda a protagonista, é um filme forte e realista, que denuncia a loucura a qual os ricos se expõe devido ao dinheiro e revela como pode ser patética a forma que pessoas falidas levam a vida. Em uma passagem interessante do longa, a decadente Jasmine reencontra com Danny. Enquanto ela está velha, cansada, chorando e reclamando de tudo, Danny, que já passou pelo uso das drogas, está casado e reconstruindo sua vida. Ali, Allen nos apresenta as duas facetas da derrota, não apenas de indivíduos falidos, mas de qualquer homem que veja a derrota pelo caminho da vida: ou se decide optar pela humildade e abaixar a cabeça e seguir em frente, ou ergue-se a cabeça e continua-se a seguir como se tudo estivesse abaixo de você. A diferença é que na primeira hipótese, em algum momento, você terá a chance de reerguer a cabeça e poder seguir em frente feliz e conformado com sua situação, na segunda hipótese, a luta para voltar à riqueza acaba levando o homem ao desespero e, em um momento próximo, ele será obrigado a abaixar a cabeça e seguir em frente com uma vida deprimente e medíocre.


Cate Blanchett é uma das melhores atrizes de sua geração. Não há uma interpretação sua que seja passada desapercebida. Como Jasmine ela está, nada mais, nada menos, que sublime. Como costumo dizer, sua atuação é um assombro, pois, como poucas atrizes, ela consegue nos fazer amar e odiar Jasmine. Blanchett, nesse contexto, cria uma Jasmine bela, pura, sorridente enquanto rica, e uma mulher que parece sempre à beira de um colapso após a falência. Não há nada em Jasmine que sirva de modelo para qualquer ser humano, mas ela nos cativa. E, ao mesmo tempo, questionamo-nos como podemos nos cativar por um ser tão imbecil que transborda hipocrisia e medo. Talvez seja isso: o medo que Jasmine sente por ter uma mudança tão brusca em sua vida nos faz sentir pena. E são as feições e os ataques que Blanchett cria para a personagem que denotam tal medo, são as cenas em que Jasmine fala sozinha que fazem tantos sentimentos vierem à tona. Entretanto, nada do que aconteça com a protagonista nos faz sentir algo mais digno dela que pena, e isso tudo, devemos à interpretação brilhante de Blanchett. A companheira de Cate na trama é Sally Hawkins. Não menos competente, Hawkins tem uma personagem menos interessante. A vida de Ginger, irmã de Jasmine, é a face da derrota eterna, mas, ainda assim, Hawkins consegue a façanha de tratar tal vida com alguma dignidade, provando que o dinheiro não compra tudo e tratando a vida como ela é. Os melhores momentos da atriz são suas reações aos insultos da irmã, o que faz da atriz o par perfeito para Cate na telona. Os homens do longa não são capazes de agregar nada ao filme, talvez seja pelo fato de o longa ter sido escrito focando em mulheres. Apesar de Peter Sarsgaard, Andrew Dice Clay, Bobby Cannavale e Alden Ehrenreich estarem bem e conseguirem segurar as pontas ao lado de Blanchett e Hawkins, Alec Baldwin não consegue ser útil nem mesmo nos momentos cômicos do longa, o que sobre para os momentos dramáticos é característico e comum demais.


O longa tem apenas 3 indicações ao Oscar, nas quais está muito bem representado. Cate Blanchett é indicada como melhor atriz principal, e, mesmo com concorrentes de peso como Judi Dench e Meryl Streep, e com atrizes queridas na América, como Amy Adams e Sandra Bullock, é a grande favorita para o prêmio. A interpretação de Blanchett é tudo o que a academia gosta, pois sua personagem vai da riqueza à decadência, sua personagem não tem nenhuma esperança de que alguma coisa dê certo na vida e podemos ver vários modelos de mulheres reais que já passaram pelo que a personagem passa. Sally Hawkins está na disputa como melhor atriz coadjuvante, apesar de ser uma interpretação marcante e bem realista, a atriz está concorrendo com Jennifer Lawrence, a nova queridinha de Hollywood e deve ficar sem o prêmio. Por fim, Woody Allen concorre na categoria de melhor roteiro original e, apesar de ser um roteiro de Allen, sempre favorito pela academia, o prêmio já está, merecidamente, nas mãos de Spike Jonze por seu trabalho espetacular em "Ela" (2013). Particularmente, simpatizo com a escolha de Allen de iniciar o longa com Jasmine indo para São Francisco e alternar a vida rica da protagonista com a vida decadente em flash backs que esclarecem tudo o que aconteceu com a personagem até ali.



Woody Allen é conhecido por grandes comédias e por grandes personagens femininos criados de forma original. “Blue Jasmine” não é uma comédia. Existem momentos engraçados? Sim, mas eles não são cômicos, são irônicos, são debochados, são realidades escrachadas a respeito de uma sociedade mesquinha, fútil, desonesta, hipócrita e que não merece estar nesse mundo. E, sobre isso, não me refiro apenas aos ricos, refiro-me a qualquer ser humano que trate a vida de forma tão estúpida e sem amor próprio como Jasmine e Ginger fizeram a vida toda. Se Jasmine não é um modelo de ser humano por estar tão acabada após a falência, Ginger também está longe de ser exemplo, pois nunca tentou nada para tornar sua vida algo mais digno. Claro que o filme pode desagradar a alguns por ser tão realista e tão forte, não é um filme simples e está longe de ser um longa agradável para qualquer momento da vida de um ser humano. Mas é essa força e essa realidade que tornam o longa um daqueles essências. Allen e Blanchett formam uma dupla inesperada que criam uma trama e uma personagem inigualáveis. E que casal melhor para apresentar tramas e personagens fortes e complexas que Woody Allen e Cate Blanchett, esses mestres da dramaturgia?


VENCEDORES DOS PRÊMIOS DO SINDICATO DOS ATORES
CINEMA
Melhor Elenco: Trapaça
Melhor Elenco Dublê: O Grande Herói
Melhor Ator: Matthew McConaughey, por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto, por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, por 12 Years a Slave

TELEVISÃO:
Melhor Elenco em Série Drama: Breaking Bad
Melhor Elenco em Série Comédia: Modern Family
Melhor Elenco Dublê em Série Drama ou Comédia: Game of Thrones
Melhor Ator em Série Drama: Bryan Cranston, por Breaking Bad
Melhor Atriz em Série Drama: Maggie Smith, por Downton Abbey
Melhor Ator em Série Comédia: Ty Burrell, por Modern Family
Melhor Atriz em Série Comédia: Julia Louis-Dreyfus, por Veep
Melhor Ator em Minissérie ou Telefilme: Michael Douglas, por Behind the Candelabra
                                                            Melhor Atriz em Minissérie ou Telefilme: Helen Mirren, por Phil Spector

VENCEDORES DOS PRÊMIOS CRITICS CHOICE AWARDS
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Ator: Matthew McConaughey, por Clube de Compra Dallas
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto, por Clube de Compras Dalas
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, por 12 anos de Escravidão
Melhor Jovem Ator ou Atriz: Adele Exarchopoulos, por Azul é a Cor Mais Quente
Melhor Elenco: Trapaça
Melhor Roteiro Original: Spike Jonze, por Ela
Melhor Roteiro Adaptado: Jojn Ridley, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Fotografia: Emmanuel Lubezki, por Gravidade
Melhor Direção de Arte: Catherine Martin e Beverly Dunn, por O Grande Gatsby
Melhor Edição: Alfonso Cuarón e Mark Sanger, por Gravidade
Melhor Figurino: Catherine Martin, por O Grande Gatsby
Melhor Penteado e Maquiagem: Trapaça
Melhores Efeitos Visuais: Gravidade
Melhor Filme de Animação: Frozen: Uma Aventura Congelante
Melhor Filme de Ação: O Grande Herói
Melhor Ator em Filme de Ação: Mark Wahlberg, por O Grande Herói
Melhor Atriz em Filme de Ação: Sandra Bullock, por Gravidade
Melhor Filme de Sci-Fi ou Terror: Gravidade
Melhor Comédia: Trapaça
Melhor Ator em Comédia: Leonardo DiCaprio, por O Lobo de Wall Street
Melhor Atriz em Comédia: Amy Adams, por Trapaça
Melhor Filme Estrangeiro: Azul é a Cor Mais Quente
Melhor Documentário: 20 Feet From Stardom
Melhor Canção: Robert Lopez e Kristen Anderson-Lopez, por “Let it Go”, de “Frozen”
Melhor Trilha Sonora: Steven Price, por Gravidade
ACESSE NOSSA PÁGINA NO YOUTUBE:
 http://www.youtube.com/user/projeto399filmes
E CURTA NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Poderá gostar também de: