quinta-feira, 14 de novembro de 2013

054. GAROTA, INTERROMPIDA, de James Mangold

Um drama psicológico como poucos.
Nota: 9,6


Título Original: Girl,Interrupted
Direção: James Mangold
Elenco: Winona Ryder, Angelina Jolie, Whopi Golberg, Brittany Murphy, Clea DuVall, Elisabeth Moss, Vanessa Redgrave, Jared Leto, Jeffrey Tambor
Produção: Cathy Konrad, Douglas Wick, Carol Bodie, Gerogia Kacandes, Susanna Kaysen e Winona Ryder
Roteiro: James Mangold, Lisa Loomer, Anna Hamilton Phelan e Susanna Kaysen (romance)
Ano: 1999
Duração: 127 min.
Gênero: Drama / Thriller

EUA, 1967, a jovem Susanna Kaysen é identificada por um psicanalista com vítima do Transtorno de Borderline (instabilidade emocional) e é enviada a uma hopital psiquiátrico. Uma vez no hospital, Susanna conhecerá outras garotas com problemas mentais, todas com suas semelhanças e diferenças bem delimitadas. Dentre elas, Está Lisa Rowe, uma sociopata que é a personificação do Transtorno de Personalidade Antissocial.


O diretor James Mangold possui apenas nove filmes em seu currículo. Porém, conquistou a façanha de reunir grandes elencos em alguns deles: “Kate & Leopold” (2001), com Meg Ryan, Hugh Jackman e Liev Schreiber; “Identidade” (2003), com John Cusack, Ray Liotta, John Hawkes e Alfred Molina; “Johnny & June” (2005), com Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon, vencedora do Oscar de melhor atriz pelo filme; “Os Indomáveis” (2007), com Russell Crowe, Christian Bale, Peter Fonda e Bem Foster; e, por fim, “Encontro Explosivo” (2010), com Tom Cruise, Cameron Diaz, Peter Sarsgaard, Paul Dano e Viola Davis. Mas, inquestionavelmente, seu mais brilhante filme, e seu mais brilhante elenco, são “Garota, Interrompida”: Winona Ryder, Angelina Jolie, Clea DuVall, Brittany Murphy, Elizabeth Moss, Jared Leto (todos jovens na época, que tiveram sucesso estrondoso após esse longa), e veteranas como Whopi Goldberg e a fantástica Vanessa Redgrave. O filme é uma daptação do romance de Susanna Kaysen, que relatou os acontecimentos de sua vida no livro de mesmo nome. Não li nenhuma linha do romance de Kaysen, mas posso dizer, em dúvida, que o filme é algo surpreendente. O roteiro não possui falhas e não tenta nos inserir no contexto como o drama, “Ilha do Medo”, de Martin Scorsese, tentaria (ou melhor, conseguiria), onze anos depois. É claro que o que nos é apresentado é um drama psicológico, afinal, estamos diante de um manicômio feminino com as mais variadas doenças e manias. Além disso, as garotas do filmes são jovens bonitas e sensuais, as quais qualquer homem desejaria. Ainda sobre a beleza das moças, é inevitável pensar que qualquer jovem gostaria de ser como Angelina ou Winona. Jolie, por sinal, venceu o Oscar, o Globo de Ouro e o SAG de melhor atriz coadjuvante por sua interpretação incrível de Lisa Rowe, e é necessário falar sobre a beleza da personagem. Digo, não sobre a beleza estética da atriz, e sim sobre a beleza da construção da personagem, que é a representação de toda a loucura, toda a insanidade, mas que, ao mesmo tempo, é a representação da vida e da morte do hospital. Sem Rowe, o hospital é sem graça, dessiteressante e ela se torna assunto obrigatório. Quando Lisa está, tudo é uma catástrofe, e ela faz questão de lembrar sua presença a todo instante.


Winona Ryder interpreta Susanna Kaysen com uma singularidade essencial: no início da trama, vemos uma jovem com problemas, mas, nem de longe, tão problemática quanto se tornará no decorrer da trama. Ryder nos traz todo esse processo de forma nítida e completa, mostrando a confusão que está a cabeça da jovem. Angelina Jolie pode se gabar em dizer que seu Oscar foi conquistado por méríto e não por campanhas. Até concordo com pessoas que alegam a dificuldade em saber se a atriz estava interpretando ou vivendo um pouco de si mesma no cinema, mas isso não diminui a grandiosidade de seu trabalho interpretando uma jovem com tantos altos e baixos e, como já citei, personificando a sociopatia. Como disse anteriormente, as personagens que compõe as pacientes do hospital são muito diversificadas, já apresentei uma em início de tratamento e outra veterana, agora as reais coadjuvantes da trama. Georgia Tuskin é vivida por Clea DuVall, que nos apresenta uma garota tímida e influenciável, que acaba se apagando em detrimento de suas companheiras no hospital (que fique claro, quem se apaga é a própria personagem,o que faz com que a interpretação da atriz fique ainda mais rica e perceptível). Elizabeth Moss é Polly Clark, uma garota que sofreu um acidente e tem o rosto queimado, o acidente traz lembranças péssimas a menina e seus ataques depressivos são outro ponto forte da trama. Por fim, entre as doente, está Brittany Murphy na maior interpretação de sua carreira como a melodramática Daisy Randone, uma jovem de família rica que vê seu mundo desabar devido a sua doença. As cenas em que Murphy transforma a vida de sua personagem em consecutivas catástrofes, com manias e trejeitos únicos, são momentos meoráveis para o forte cinema de 1999. Para finalizar a análise das interpretações, volto a citar as veteranas. Whoopi Goldberg está totalmente diferente daquela simpática comediante a qual nos acostumamos, é a dura enfermeira Valerie Owens, que trata tudo com muita inteligência e pulso firme, mas que consegue demostrar no olhar o quanto sente por meninas tão belas, jovens e que possuem tantas chances na vida estarem naquele hospital, não por escolha própria, e sim por necessidade. Apesar desse tal pulso firme, a interpretação de Goldberg é a mais comovente do longa. Vanessa Redgrave fecha, com chave de ouro, esse elenco estupendo. Ela é a Dr, Sonia Wick, a psiquiatra do local. Vencedora de um Oscar e indicada mais cinco vezes, a inglesa nos apresenta uma personagem sóbria, que faz seu trabalho com muita decência, cautela e competência. Mais uma vez, quaisquer palavras que fossem usadas seriam pouco para definir a grandiosidade que essa atriz adquiriu durante os anos, tornando-a a capaz de ser perfeita em qualquer situação.



“Garota Interrompida” não é nenhum thriller psicológico como os feitos por Alfred Hitchcock e Martin Scorsese, porém, é preciso tanto fôlego para assistir ao assassinato de Marion Crane, quanto os métodos a que as doentes acabam sendo submetidas no hospital psiqueátrico. Enquanto o suspense e o terror se instalavam em “A Ilha do Medo” graças à habilidade de Scorsese em nos envolver na trama a ponto de não sabermos o que é real ou imaginário, os calafrios desse filme são proporcionados por vermos jovens serem maltratadas pela vida devido a suas doenças. O ponto forte do longa, o clássico clímax, também instalado por Hitch e Scorsese é quando as garota pegam o diário de Susanna e se escondem no subsolo do hospital. Susanna se esqueira em túneis intermináveis sem saber o que a aguarda. É inevitável não lembrar das cenas dos filmes citados dos mestres do cinema: o Detetive Arbogast subindo as escadas da casa dos Bates (escada que representou o caminho de sua morte em “Psicose”, de 1960) e o Detetive Teddy Daniels, vivido por Leonardo Di Caprio, andando atônito pelos corredores do grande manicômio central da trama (mal sabia ele que esse seria o caminho para a conclusão de sua completa loucura). “Psicose” até pode ter influenciado em alguma coisa a cena do longa, “Paciente 67” (livro que deu origem a “A Ilha do Medo”) nem havia sido lançado quando o longa foi realizado. Entretanto, o que quero dizer fazendo referência a esses dois longas é que não sabemos ao certo quais momentos dos filmes são reais, e quais deles são imaginações dos nossos protagonistas. É impossível tecer uma conclusão específica em meio a tantas loucuras e incertezas. O fato é que, assim como “Psicose” fez e “A Ilha do Medo” faria mais tarde, “Garota, Interrompida” é um longa perturbador que aposta no melhor para nos persuadir a mergulhar de cabeça na história: a dúvida proporcionada pela insanidade.


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