quarta-feira, 20 de novembro de 2013

042. LINHA DE PASSE, de Walter Salles e Daniela Thomas

A realidade brasileira revelada de forma nua e crua em mais um grande filme nacional.
Nota: 9,5


Título Original: Linha de Passe
Direção: Walter Salles e Daniela Thomas
Elenco: Sandra Corveloni, João Baldasserini, Vinícius de Oliveira, Geraldo Rodrigues, Kaique Jesus Santos, Roberto Audi, Denise Weinberg, Ana Luiza Garritano, Sérgio Mastropasqua, Renata Novaes, Mário César Camargo, Gabriela Rabello, Rafael Losso, Almir Barros
Produção: Mauricio Andrade Ramos, Walter Salles, Daniela Thomas, Rebecca Yeldham
Roteiro: George Moura, Daniela Thomas, Bráulio Mantovani
Ano: 2008
Duração: 113 min.
Gênero: Drama

Cleuza é uma empregada doméstica residente do subúrbio de São Paulo que tem quatro filhos e está a espera de mais um. Dênis já tem um filho e ganha a vida se arriscando nas ruas como motoboy para tentar dar um futuro digno para sua família. Dario é um jovem de apenas 18 anos que começa a se preocupar com sua idade pois deseja se tornar um jogador de futebol. Dinho é um rapaz que já aprontou as suas, mas se tornou um garoto religioso e entregou sua vida a Deus. Reginaldo, o mais novo, tem apenas uma preocupação na vida: encontrar seu pai. Juntos, eles formam uma família brasileira que luta por uma vida melhor e pela realização de seus sonhos.


Walter Salles e Daniela Thomas vem de famílias ricas, tiveram excelente edução e conheceram a fama desde jovens. Entretanto, isso não quer dizer que qualquer um dos dois comprometa esse filme, que expõe a realidade de brasileiros pobres e sem oportunidade alguma. Muito pelo contrário, a contextualização proporcionada pelo enredo exige que a dupla apresente ao público um filme real, sem enrolação e que mexa no mais profundo subconsciente de qualquer pessoa. E, satisfatoriamente, afirmo: eles obtêm exito impressionante nessa tarefa. São Paulo é explorada, por eles, de forma singular: mostram a boa vida da patroa de Cleuza, que, apesar de ser trabalhadora, está longe de encontrar as dificuldades da empregada; mostra alguns momentos dos cultos da igreja frequentada por Dinho e a dificuldade de ser um “homem de Deus” em locais mais pobres devido ao preconceito; traz as realidades das ruas de São Paulo quando Dênis dribla os carros e o tempo para trabalhar; revela os problemas e as dificuldades de um jovem pobre em conseguir entrar em um time de futebol para realizar o tão comum sonho de ser um jogador de futebol no país do futebol; e revela algumas curiosidades sobre a busca de um pequeno garoto atrás de seu pai.


Em meio a tudo isso, o roteiro nos mostra a preocupação, o zelo e o orgulho que Cleuza tem de seus filho. Ainda nesse contexto, vemos o respeito e o amor que esse quatro homens (e digo homens, pois na situação em que essa família vive, até mesmo o pequeno Reginaldo já teve de se tornar um homem) nutrem por sua mãe, mesmo com alguns momentos de má criação. Em uma das cenas mais interessantes do longa, Dênis segue dois rapazes que roubaram a bolsa de uma mulher e pega a bolsa do lixo para presentear sua mãe. Apesar de ser algo errado, é bonito ver como um filho deseja fazer a mãe feliz, o que mostra o reconhecimento pelos esforços de Cleuza.


Sandra Corveloni arrebatou a todos no Festival de Cannes de 2008 e levou o prêmio de melhor atriz por seu trabalho como Cleuza. Não há como negar: o trabalho de Sandra merece todos os aplausos e congratulações possíveis, afinal, poucas atrizes interpretam uma mãe com tanta convicção e beleza quanto ela. E ainda não estou falando sobre a interpretação de uma mulher de classe baixa, me refiro apenas à sua atuação como mãe, como uma mulher que se vira como pode para criar os filhos. Sem restrições ou comparações, Cleuza ama seus filhos e quer o melhor para eles, a dureza com a qual Sandra apresenta sua personagem é só para lembrar que ela é mãe e pai (como a própria personagem aponta em uma cena belíssima). Quanto ao lado financeiro, Sandra nos mostra que uma mãe está aí para o que der e vier e que apenas elas são capazes de dar suas vidas pelos filhos, não importa o que tenha de ser feito, não importa os riscos vitais que elas corram.


Dênis é interpretado por João Baldasserini, que nos apresenta um jovem emotivo que espera por algo melhor na vida, que batalha para dar um futuro melhor a sua família. Ainda vemos, graças a atuação de Baldasserini, a dificuldade em um jovem expor seus sentimentos e assumir, definitivamente, a paternidade de seu filho. Por fim, ainda somos expostos aos desejos e aos impulsos que apenas jovens possuem. Vinícius de Oliveira é o jogador Dario, talvez o personagem que mais reflete o jovem brasileiro de classe baixa que sabe que, de todas as maneiras possíveis, a forma mais fácil e palpável de se conseguir dinheiro e fama é se tornar um jogador de futebol, afinal, estamos no país movido por tal esporte. A beleza da atuação de Vinícius está, justo, na forma como ele apresenta um garoto determinado e esforçado. Aliás, o esforço e a determinação são qualidades encontradas em todos os personagens desse longa, em Dinho, interpretado por Geraldo Rodigues, são encontradas pela força de sua fé e de sua vontade de ser um homem devoto e digno de receber o apoio divino. Rodrigues nos apresenta um jovem que, provavelmente, já fez algumas besteiras na vida, mas se acaba por ser como a marca do arrependimento. O jovem Reginaldo é interpretado de forma maestral por Kaique Jesus Santos, que nos mostra um menino que possui um sonho simples: encontrar seu pai biológico. O senho de Reginaldo é algo puro, simples e extremamente natural. Ele representa uma parcela da sociedade da classe baixa brasileira que acaba vivendo sem a presença do pai, seja por motivos naturais ou não.



O quinteto formado por Corveloni-Baldasserini-de’Oliveira-Rodrigues-Santos é um deleite para qualquer cineasta ou para qualquer cinéfilo. Sem exceção, os cinco são extremamente competentes e nos conquistam a cada frame do longa. Com o passar da história, mesmo que agindo de forma errada, torcemos para que os personagens consigam o que querem. Não que em algum momento algum deles represente o anti-herói que Macunaíma representou no Modernismo, por exemplo, longe disso. Eles representam a sociedade que, como vemos em “Cidade de Deus”, foi esquecida e deixada de lado. São o povo, a massa de nosso país. Seres humanos como qualquer um de nós, que lutam para sobreviver e visam um futuro mais digno e decente. Mas que, até atingir tal futuro, não medem esforços para poder colocar o pão em cima da mesa e não deixar que sua família seja dispersada. E talvez, esses deslizes e desafios expostos, todos eles mostrados como acidentes necessários, ou seja, erros impostos e não escolhidos pelos personagens, que fazem com que a família se una de forma calorosa e amável. E é essa união que faz com que nos motivemos e que nos apaixonemos por esses personagens, afinal, eles não são apenas eles, e sim a representação de uma sociedade largada è própria sorte, nossa sociedade.





VENCEDORES DO PRÊMIO EUROPEU DE CINEMA:
Melhor Filme: The Great Beauty / La Grande Bellezza
Melhor Filme de Comédia: Love is All You Need / Den Skaldede Frisor
Melhor Diretor: Paolo Sorrentino, por The Great Beauty
Melhor Atriz: Veerle Vaetens, por The Broken Circle Breakdown
Melhor Ator: Toni Servillo, por The Great Beauty
Melhor Roteiro: François Ozon, In the House
Prêmio Carlo Di Palma: Asaf Sudry
Melhor Edição: Cristiano Travaglioli, por The Great Beauty
Melhor Designer de Produção: Sarah Greenwood, por Anna Karenina
Melhor Figurino: Paco Delgado, Blancanieves
Melhor Composição: Ennio Morricone, por The Best Offer
Melhor Designer de Som: Mat Muller e Erik Mishijew, por Paradise: Faith / Paradise: Glaube
Melhor Documentário: The Acr of Killing
Melhor Filme de Animação: The Congress
Melhor Filme Curta-Metragem: Death of a Shadow
Prêmios Especiais: Ada Solomon, Catherine Deneuve e Pedro Almodóvar




VENCEDORES DO PRÊMIO DOS CRÍTICOS DE FILMES DE LOS ANGELES
Melhor Filme (Empate): Gravidade e Her
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Atriz (Empate): Cate Blanchett, por Blue Jasmine e Adèle Exarchopoulos, por Blue Is The Warmest Color
Melhor Ator: Bruce Dern, por Nebraska
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, por 12 Years a Slave
Melhor Ator Coadjuvante (Empate): James Franco, por Spring Brearkers e Jared Leto, por Dallas Buyers Club
Melhor Roteiro: Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawle, por Before Midnight
Melhor Documentário: Stories We Tell
Melhor Filme Estrangeiro: Blue is the Warmest Color
Melhor Trilha Sonora: T Bone Burnett, por Inside Llewyn Davis
Melhor Filme de Animação: Ernest & Célestine
Melhor Fotografia: Emanuel Lubezki, por Gravidade
Melhor Edição: Alfonso Cuarón e Mark Sanger, por Gravidade
Melhor Designer de produção: K. K. Barrett, por Her
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