sábado, 25 de maio de 2013

072. SOB O DOMÍNIO DO MAL, de Jonathan Demme

Apesar de bom, se auto-destrói quando resolve dar ao bem uma chance de vencer o mal.
Nota: 8,5


Título Original: The Machurian Candidate
Direção: Jonathan Demme
Elenco: Denzel Washington, Liev Schreiber, Meryl Streep, Jon Voight Jeffrey Wright, Pablo Schreiber, Anthony Mackie, Darian Missick, Simon McBurney, Vera Farmiga
Produção: Jonathan demme, Ilona Herzberg, Scott Rudin, Tina Sinatra
Roteiro: Daniel Pyne, Dean Georgaris, George Axelrod (roteiro de 1962) e Richard Condon (romance)
Ano: 2004
Duração: 129 min.

Ben Marco e Raymond Shaw são dois homens totalmente diferentes que serviram ao exército americano durante a Guerra do Golfo. Entretanto, suas vidas seguiram caminhos diferentes: Marco dá palestras sobre o exército, as guerras e seus feitos – o que inclui elogiar a forma inacreditável de como Shaw salvou a vida de todos no Golfo -; e Raymond é um aspirante político que está prestes a se tornar o vice-presidente dos Estados Unidos da América. Todavia, Marco começa a ter estranhos pesadelos que o fazem acreditar que ele e todo o grupo que foi para a Guerra do Golfo ao lado de Shaw tenha sofrido uma lavagem cerebral, e todas as pistas apontam para apenas uma pessoa: a inexpugnável mãe de Raymond, Eleanor Shaw.


É bem simples definir o trabalho de Jonathan Demme em três títulos além desse que fizeram o auge de sua carreira e que o fizeram permanecer como um diretor de renome na última década: “O Silêncio dos Inocentes” (1991), vencedor dos principais prêmios do Oscar, filme, direção, roteiro, ator e atriz; “Filadélfia” (1993), protagonizado por Tom Hanks e Denzel Washinton; e o recente e controverso “O Casamento de Rachel” (2008), filme que rendeu a Anne Hathaway sua primeira indicação ao Oscar. Apesar de alguns críticos serem muito negativos quanto a esse filme, acho ele excelente, não apenas por ter Meryl Streep no elenco – aliás, elogiada por todos e indicada ao Globo de Ouro e ao Bafta por sua interpretação -, mas por ter uma história envolvente e totalmente explicada durante o contexto do longa, é claro que a produção exige concentração e especulações, mas basta ter a mínima atenção para se compreender o sentido de todo o longa. A temática abordada aqui se torna clara desde as primeiras cenas do filme, e vai sendo destrinchada no decorrer da trama: trata-se de um filme sobre poder, cobiça, luxúria e o desejo de se estar por cima de tudo e todos. Trazer a política para ser o plano de fundo dessa história é mais uma idéia ótima do enredo, afinal, quem deseja mais poder no mundo que não os políticos? Quem possui maiores meios para conquistar poder e dinheiro que não políticos? E foi nesse contexto que em 1962 John Frankenheimer adaptou o romance de Richard Condon e trouxe a primeira versão desse filme, que trazia Frank Sinatra como Marco, Laurence Harvey como Raymond, Janet Leigh como a bela detetive Eugine e a indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, Angela Lansbury como Eleanor Shaw. Apesar de todos afirmarem que essa primeira versão é bem superior a segunda, ainda não assisti a primeira, de forma que não farei comparações entre elas. Apesar do roteirista Dean Georgaris ter roteirizado apenas três filmes além desse – nenhum muito louvável -, Daniel Pyne tem meia dúzia de trabalhos que já foram algum destaque, dentre eles: “Miami Vice” (1984 – 1988), “Morando com o Perigo” (1990), “Um Domingo Qualquer” (1999), “Um Crime de Mestre” (2007) e “Alcatraz” (2012), apesar de a maior parte de seus filmes não ser de grande qualidade cinematográfica, são trabalhos conhecidos pelo público. Dentre tantos grandes compositores no cinema, Rachel Portman foi a primeira mulher a vencer um Oscar por uma trilha sonora, compositora desse filme e de mais 87 trabalhos no cinema e na televisão, ela pode ser destacada como uma compositora versátil que já fez dezenas de bons trabalhos, apesar de gostar de vários dos filmes em que trabalhou, um dos meus favoritos é “Chocolate” (2000).


Denzel Washington é, sem dúvida alguma, o melhor ator negro em atividade, a infinidade de gêneros nos quais ele já atuou o fazem um dos artistas mais completos e versáteis do cinema moderno. Aqui ele vive Bennet Marco, um homem normal que começa a ficar perturbado quando um amigo e ex-parceiro que lutou na Guerra do Golfo o faz desconfiar de tudo e todos a sua volta, e é nessa confusão que fica a cabeça do personagem que está a maestria de Washington ao interpretar um homem a beira da loucura, demonstrando claramente o desespero de Marco em descobrir a verdade e convencer outras pessoas, especialmente os envolvidos, de tudo o que pode ter realmente acontecido. O simpático Liev Schreiber vive Raymond Shaw, o futuro vice-presidente dos Estados Unidos, ao contrário de Marco, ele não acredita muito no que possa estar acontecendo logo de cara, mas fica desconfiado, entretanto, é a forma infantil como o personagem reage ao lado da mãe que torna a atuação de Schreiber uma agradável surpresa que dá ao próprio personagem um destaque inimaginável. Meryl Streep, por vezes, pode se tornar cansativa por toda sua habilidade em fazer uma personagem, apesar de essa não ser minha atuação favorita da atriz, ela está ótima no papel, dentre as várias cenas onde ela demonstra o quanto a senadora é convincente e não admite derrotas, a melhor delas é seu discurso para convencer os membros do partido de que o filho é a melhor opção para a vice-presidência, acrescente a isso, as caras e bocas de Streep caem como uma luva nas loucuras de Eleanor Shaw. Jon Voight está, surpreendentemente, ótimo como o Senador Thomas Jordan, outro político sedento por poder que acaba sendo o único a acreditar na história de Marco. Kimberly Elise pega o lugar de Janet Leigh como a detetive que tenta ajudar Marco, Rosie, e , para completar o quadro feminino mais jovem temos Vera Farmiga como a paixão de juventude de Raymond.



Talvez a maior diferença entre o longa original e esse seja a abolição do sarcasmo e da ironia que ouvi dizer que vemos no filme de 1962, talvez a seriedade absurda com que tudo é tratado aqui, deixando de lado o deboche contra a política e o velho humor negro tão delicioso faça com que esse filme não seja tão prestigiado pelo público ou pela crítica quanto o primeiro, afinal, adaptar um clássico já é arriscado, agora, tirar toda sua essência como um filme revolucionário no sentido de comédia inteligente, pode significar uma catástrofe inimaginável em qualquer produção. Apesar disso, para aqueles que, como eu, não viram o original e gostam do estilo filme-sério-político-crítico a que esse faz jus, irão gostar do filme e se divertirão com as ótimas, mas diferentes, sacadas encontradas durante a trama. No final das contas, a única coisa que derruba o filme mesmo pode ser a tentativa de se exterminar com esse domínio do mal, que, na minha opinião estará sempre por cima de tudo e todos, pois, mesmo que defendamos a paz e o bem como algo supremo, no mundo em que vivemos o mal se faz mais presente, e não são as boas e corretas pessoas que vencem, afinal, o triunfo está reservado aos espertos e esforçados, afinal o mundo é deles mesmo.


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