segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

135. PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN, de Lynne Ramsay


A agressão inerente ao homem transforma a vida de uma família em um verdadeiro inferno, instalando a violência na cabeça de um jovem psicótico.
Nota: 9,5


Título Original: We Need Talk About
Direção: Lynne Ramsay
Elenco: Tilda swinton, John c. Reilly, Ezra Miller, Jasper Newell, Rock duer, Ashley Gerasimovich, Siobhan Falloroeg,
Produção: Jennifer Fox, Luc Roeg, Robert Salermo, Tilda Swinton, Steven Soderbergh
Roteiro: Lynne Ramsay, Roryy Kinnear e Lionel Shriver (romance)
Ano: 2011
Duração: 112 min.
Gênero: Drama

Eva e Franklin são um casal apaixonado que acaba, como qualquer casal normal tendo um filho. O problema é que, enquanto a vida de Franklin continua na mesma situação, Eva começa a ver mudanças drásticas na sua: na realidade ela não queria muito a criança e sua vida vira de cabeça para baixo. Conforme Kevin, o filho, cresce, começa a apresentar comportamentos estranhos. Após alguns anos chega mais uma filha na vida dos três. Mais um tempo depois, Kevin acaba cometendo o assassinato de várias pessoas na escola em que estuda. Agora será preciso aprender com os erros do passado e conviver com o fato de que seu próprio filho é um assassino.


Claro que o tema do filme geraria polêmica, afinal, não é todo o dia que escolas sofrem massacres e tem seus alunos assassinados, mas, devemos lembrar de nosso próprio contexto: nos últimos anos tornou-se comum ouvirmos falar sobre esse tipo de atentado – inclusive no Brasil. Entretanto, o longa não é sobre o quanto acontecimentos como esses são comuns ou não, ou como eles mudam a vida de todos. O que está em jogo aqui é tentar mostrar o que ocasionou tais atitudes e como Eva terá de viver com o fato de que seu filho fez algo imperdoável perante a sociedade. Não há interesse, por parte da direção, do roteirista ou dos atores, mostrar o ataque ou as mortes como algo apelativo para que os espectadores fiquem boquiabertos. Isso tudo por um simples fato: não há necessidade de mostrar nada, o contexto que levou a atitude de Kevin já é o suficiente para refletirmos sobre tudo o que vemos durante muito tempo. Em suma, é bom saber que o filme não obedece a nenhuma ordem cronológica, estamos em dois anos após o massacre, Kevin está preso e Eva está tentando recomeçar uma nova vida, todavia, vemos aos pensamentos da mulher, lembrar desde a infância de Kevin até o dia do atentado, tudo misturado. Como citei, Eva não desejava a vinda de Kevin, o que já tornou tudo mais difícil, chega a ser compreensível uma mulher não querer ter um filho, mas quando essa simples falta de vontade provoca extremos como os que aconteciam com ela e Kevin – ela chegou a jogar o menino no chão por uma má criação e dizer a ele, enquanto ainda era um bebe, que ela tinha sido feliz, mas que agora acordava e deseja estar em Paris, bem longe dali – é por que algo está muito errado. Para simplificar, prefiro deixar claro: Kevin e Eva se odiavam, enquanto Kevin se fazia de um bom menino para o pai, e tudo só piorou quando nasceu a filha do casal e o menino passou a odiá-la também, alegando que ele podia até se acostumar, mas que se acostumar com algo não significa gostar disso, afinal, Eva havia se acostumado com ele. E é nesse contexto que se centra o título do filme: Eva sempre quis falar sobre esses problemas com Franklin, mas ele se negava a creditar que o menino podia ser tão cruel quanto a mãe dizia.


Tilda Swinton não é uma bela mulher como estamos acostumados e nem é um das estrelas mais simpáticas do cinema, mas quando essa mulher resolve se entregar a um trabalho, são poucas as atrizes que se tornam tão bem sucedidas. Ela está perfeita como Eva, é claro que existem momentos em que sua atuação aprece over (exagerada), mas quem não estaria a beira de um ataque de nervos a todo instante se seu filho simplesmente cometesse uma chacina? E talvez seja nesse controle que Swinton acerta tanto: ora ela é uma mãe adorável, que finalmente parece querer se aproximar de Kevin, em outros momentos ela é totalmente racional e sabe que o filho tem problemas, mas aceitá-los é algo difícil. O que mais traz pontos à interpretação da atriz é sua feição na parte “atual” da história, ela está simplesmente perdida no mundo, tentando reconstruir sua vida, mas nunca se esquecendo que o pesadelo pode recomeçar quando Kevin deixar a prisão. John C. Reilly é um dos atores que mais gosto no cinema contemporâneo, assim como Swinton ele é verdadeiro, nada de estereótipos, nada de músculos ou beleza exterior, mas, ainda sim, um ator de grande peso para a trama. Fazer-se de idiota completo perante algumas atitudes observadas na vida não é fácil, e é bem isso o que faz da atuação de Reilly algo tão bem vindo e o torna a escolha perfeita para o papel. Para viver Kevin temos três atores: Rock Duer, que aparece durante pouco e não tem muito o que mostrar por sua idade; Jasper Newell, um menino com cara de anjinho que supera todas as expectativas em uma das melhores cenas do filme – aquela em que Eva acabou de trocar a fralda do menino que já passou dos cinco anos de idade e ele defeca novamente somente para irritar a mãe –, além desse existem vários momentos em que sua personalidade assassina vem e volta, sendo impossível não alertar: assistir a uma criança fazendo uma má criação, daquelas estúpidas provocações desnecessárias mesmo, jamais será da mesma forma; e, por fim, Ezra Miller, um Kevin bem mais velho, aparentemente calmo e consciente de todos os seus atos, que tem suas maiores cenas no momento em que mata os colegas – não há uma gota de sangue na cena, apenas vemos a cara de Miller – e na última cena de sua personagem, quando diz para a mãe que não sabe porque fez tudo aquilo.


Obviamente, um filme tão ousado como esse não foi feito por uma grande produtora, é um filme independente, e talvez seja isso que o torne tão bom. Não há pretensões em chamar a atenção com cenas violentas vindas de Kevin ou sua família. Claramente, não foi sem mais nem menos que o menino fez o que fez, mas também não podemos jogar toda a culpa em cima dos pais. Podemos até ser frutos do meio em que vivemos, pode até ser que o temperamento louco de Eva tenha contribuído muito para o resultado, ainda podemos concluir que a super proteção e a vista grossa de Franklin não contribuíram para que a formação mental do garoto fosse das melhores, mas daí julgar o pai e a mãe de um jovem por ele ter planejado e executado um crime como esse? Pode até ser desumano o que Kevin fez, mas é ainda pior jogar toda a culpa em cima de um pai ou uma mãe pelas atitudes de um filho, bem como é totalmente incorreto julgar os filhos pelo passado dos pais. Kevin simplesmente tinha distúrbios que necessitavam de atenção, a qual não foi dada por um simples motivo: filhos não vem acompanhados com um manual de instrução, não havia meio de Eva ou Franklin simplesmente imaginarem “esse garoto é perturbado, vamos chamar um psiquiatra ou ele vai acabar matando seus colegas”. Nenhum pai espera a pior atitude de um filho. Esse filme não humaniza os pais de Kevin, muito menos o próprio Kevin, apenas mostrar o quanto Eva sofreu, seja ou não uma consequência das atitudes dela no passado, ao menos, em sua cabeça, também despreparada – afinal, ninguém está realmente preparado – a culpa foi sua e de mais ninguém. Agora, é seguir em frente e tentar conviver com o que aconteceu, pois uma hora Kevin deixará a cadeia e o passado estará de volta, como um mostro que escondemos a vida toda naquele porão onde escondemos segredos e medos, e aí a porta será aberta, e talvez seja isso que Eva se indague o filme todo, quando a porta for escancarada, o que será feito?


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