terça-feira, 15 de janeiro de 2013

134. O SHOW DE TRUMAN, de Peter Weir



O maior Reality Show da história prova apenas uma coisa: a população mundial está cada vez mais alienada.
Nota: 9,2


Título original: The Truman Show
Direção: Peter Weir
Elenco: Jim Carrey, Ed Harris, Laura Linney, Noah emmerich, Natascha McElhone, Holland Taylor, Brian Delate, Peter Krause, Paul Giamatti, Adam Tomei
Produção: Scott Rudin, Adam Schroeder, Andrew Niccol, Edward Feldman
Roteiro: Andrew Niccol
Ano: 1998
Duração: 103 min.
Gênero: Comédia / Drama

Truman Burbank leva uma vida pacata na pequena cidade ilhada Seaheaven, possui uma bela esposa, é conhecido e admirado por todos por esbanjar bondade e simpatia, trabalha em um emprego considerado ótimo por todos, e até mesmo o cachorro do vizinho o adora. A única coisa que Truman não sabe que é há trinta anos sua vida vem sendo acompanhada por todo o mundo em uma espécie de Reality Show, onde ele é o protagonista em uma vida totalmente forjada. Entretanto, estranhos acontecimentos farão Truman questionar a perfeição de sua vida e tentar buscar a verdade. E é sabido: a audiência nunca é tão alta quanto no momento em que o protagonista idiota descobre as verdades.


O australiano Peter Weir já era conhecido quando assumiu a liderança de “Truman”, dentre seus principais filmes temos “A Testemunha” (1985), “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989), “Sem Medo de Viver” (1993) e “Mestre dos Mares – O Lado Mais Distante do Mundo” (2003). Tendo essas produções em vista, não podíamos esperar algo menos que ótimo. E o que nos é apresentado supera essa classificação, nem tanto pelo trabalho do diretor, e sim por um roteiro quase que inacreditável de Andrew Niccol. Digo que o trabalho é quase inacreditável por esse ser o único trabalho do roteirista que realmente acredito ser sublime, pois é maravilhosa a forma como ele consegue criticar o quanto estamos sendo guiados pela indústria do entretenimento, esquecendo nossas próprias raízes e deixando aquela personalidade individual que definia cada ser humano como único de lado. No filme, temos a representação exata dessa massa que depende de televisões, por exemplo, para viver e guiar toda sua vida, ou seja, para essas personagens, representadas por garçonetes, velhinhas e seguranças, é essencial estar acompanhando algum programa de televisão o tempo todo para que a vida seja completa. Em contraponto a isso, temos os que fazem os programas que determinam a forma como as pessoas levam sua vida, aqui representados pelos “colegas de trabalho” de Truman e pelo criador louco dessa “telenovela” que completa trinta anos. Nesse contexto, é bom lembrar que tudo o que vemos na cidade em que Truman mora é irreal, ou melhor dizendo, a própria ilha, o mar, o céu, o sol e a lua são a maior construção humana que, ironicamente dito por um repórter durante o filme, ao lado da Muralha da China, a única construção humana vista do espaço. Outra ironia ótima são as propagandas dos produtos durante a trama: sem mais nem menos uma personagem ou outra elogia um ou outro produto. Por fim, é preciso deixar claro que não se pode assistir a esse filme como se assiste a qualquer outra produção, é necessário estar atento para cada sacada e nuance propostos pelo roteiro, e tentar se colocar um pouco no lugar de cada personagem para tentar compreender suas vidas e seus desejos, no caso de Truman, descobrir a verdade, no caso de Christof, permanecer controlando uma parte do mundo, afinal, mesmo que ela seja minúscula e fictícia, ela controla boa parte do planeta.


Não simpatizo muito com Jim Carrey em suas interpretações em comédias, talvez seja por isso que nesse filme ele se torne quase agradável, isso por que nos momentos dramáticos ele está ótimo, deixando de lado aquele tom de comédia quase insuportável em seu rosto, já nos momentos em que ele deveria ser natural, parece que ele não atinge esse objetivo, voltando a sua forma chata de comediante nato que ele gostaria de ser, em contraponto, ainda temos os momentos irônicos em que o ator mostra como todos permanecemos crianças ou adolescentes por toda a vida. O sempre ótimo Ed Harris vive o demente Christof, chegando a nos conquistar e nos fazer sentir pena de sua personagem em alguns momentos (após trinta anos ele não consegue deixar o programa terminar pra revelar a Truman a verdade), o ator está em uma de suas melhores performances, todavia, o mais incrível não está em como o mesmo se apresenta pronto para dar vida a essa complexa personagem, e sim os olhares lançados por Harris na pele de Christof em cada uma das cenas nas quais aparece. Laura Linney é a atriz Hannh Gill, que interpreta (dentro no Show de Truman) a esposa do protagonista, Meryl Burbank, ainda que a atuação de Linney seja excelente ela aparece pouco, nos restando apenas uma grande cena relevante (Truman está quase descobrindo a verdade e está enlouquecido, em um ato de desespero e na tentativa de acabar com aquilo ela oferece um produto ao “marido”, fazendo aquelas propagandas ridículas, ao passo que ele se revolta mais ainda e ameaça matá-la, o melhor amigo de Truman – também um ator – chega na casa dos dois e ela o abraça dizendo que não aguenta mais), o resultado é simples e bem esperado, mais uma crítica a banalidade do entretenimento: ela é substituída. Noah Emmerich é o tal melhor amigo de Truman, Marlon, em sua interpretação na interpretação ele não passa de mais um peão comandado, o tempo todo, por Christof, o surpreendente é como ele consegue permanecer frio e indiferente perante ao desespero de um homem que ele viu crescer, ou melhor, de um homem que cresceu ao seu lado, digo, é desumana a forma como parece que ele não sente nada por Truman, afinal, são trinta anos um ao lado do outro.


Não posso deixar de falar que o filme generaliza muito o que o entretenimento pretende fazer e que nem todas as pessoas possuem a mesma intenção de manipular a vida dos espectadores ( a maioria sim, mas resta uma pequena parcela que faz arte pelo simples prazer de levar um pouco mais de cultura ao mundo) e, convenhamos, se formos tratar apenas do segmento abordado no filme – Reality Shows – não há cultura alguma nesses programas, ao contrário do que vemos em novelas, seriados e filmes de televisão ou cinema. Entretanto, no final das contas, esse roteiro estranho e, aparentemente sem nexo algum (durante o desenrolar da trama acabamos compreendendo como é que Truman não descobriu a verdade durante tanto tempo) nos mostra aquilo que todos sabemos, mas insistimos em ignorar: somos controlados por uma indústria de entretenimento (de qualidade ou não) que aliena cada ser humano da terra, e não adianta dizer ou pensar que com você isso ocorre de forma contrária, nascemos e morremos tendo nossa personalidade moldada por essa indústria, por um simples motivo, se você não a acompanha, se torna exatamente aquilo que ela determina que você deve se tornar, digo, é ela que escolhe o que é bom e o que é ruim, na prática, o ruim se prevalece, tornando-se a “modinha” da vez, e o que deve ser o produto de qualidade se torna o “contrário” citado acima. E essa afirmação se faz mais verdadeira ainda no desfecho da trama, que nos mostra que não importa o que aconteça com o resto do mundo, quando chegar a hora, outros incontáveis programas estarão a nossa espera para nos moldar ainda mais no padrão criado pelo entretenimento, e, finalmente, me reservo ao direito de começar a falar sobre como políticos e bilionários influenciam esse meio. Por fim, “O Show de Truman” apenas revela a verdade: podemos fazer o que quisermos, jamais estaremos livres da influência em massa.


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